O cineasta Cacá Diegues morreu nesta sexta-feira (14), aos 84 anos, no Rio de Janeiro. Segundo nota da Academia Brasileira de Letras, a morte foi em decorrência de complicações causadas por uma cirurgia.
Cacá ocupava a cadeira de nĂşmero 7 da Academia, que pertencia a outro colega de profissĂŁo, Nelson Pereira dos Santos. No texto, a entidade destaca que a obra de Diegues “equilibrou popularidade e profundidade artĂstica ao abordar temas sociais e culturais com sensibilidade”.Â
Ex-Presidente da Academia e atual Presidente da Fundação Biblioteca Nacional, o escritor Marco Lucchesi destacou que Cacá sempre foi um homem aberto ao diálogo, mesmo quando o interlocutor não estava disposto a conversar.
“Cacá nunca desistiu do diálogo e sempre apostou numa categoria de utopia e de esperança para refletir essa imagem de Brasil na sua obra, nos seus artigos de jornal, mas sobretudo, e sempre, e atravĂ©s do seu gesto generoso, da sua delicadeza de abordagem, da sua extrema elegância, muito popular, muito fina de chegar atĂ© o outro”.
Carlos JosĂ© Fontes Diegues nasceu em MaceiĂł (AL), no dia 19 de maio de 1940, mas mudou para o Rio de Janeiro ainda criança, aos 6 anos de idade. Em 1959, iniciou o curso de direito na PontifĂcia Universidade CatĂłlica do Rio, e foi durante o curso que se envolveu com o movimento estudantil e fundou um cineclube, lançando seus primeiros curtas e documentários. No inĂcio dos anos 1960, tornou-se cineasta profissional e um dos lĂderes do movimento do Cinema Novo, atuando como produtor, diretor e roteirista.Â
Por causa de sua atuação intelectual e polĂtica contra a Ditadura, o cineasta precisou se exilar em 1969, primeiro na Itália e depois na França, retornando ao paĂs no inĂcio dos anos 70.
Ao longo de mais de 60 anos de carreira em vários segmentos, como jornalismo, literatura e cinema, Cacá Diegues deixou uma extensa obra com vários livros, crĂticas e artigos jornalĂsticos e pelo menos 35 filmes entre longas, mĂ©dias e curtas metragens. No cinema, clássicos como Xica Da Silva, Bye Bye Brasil, Tieta do Agreste, Orfeu e Deus Ă© Brasileiro. Este Ăşltimo, inclusive, tem uma continuação, Deus Ainda Ă© Brasileiro, com previsĂŁo de estreia nos cinemas para outubro deste ano.
Em entrevista ao programa Trilha de Letras, da TV Brasil, Cacá Diegues refletiu sobre uma de sua motivações para fazer cinema
“Eu acho que se vocĂŞ nĂŁo fizer um filme que interessa as pessoas no seu tempo, vocĂŞ tá perdendo o seu tempo, nĂ©? Esse negĂłcio de fazer filmes nostálgicos, para falar do passado ou mandar cartas para o futuro, eu nĂŁo concordo com isso. Eu acho que cada vez que eu vou fazer um filme, eu penso primeiro se aquele filme interessa Ă s pessoas do meu tempo, se aquilo pode interessar, eventualmente, a uma pessoa que quer saber o estado do mundo, o estado do paĂs, enfim… E aĂ eu faço ou nĂŁo. O filme nĂŁo Ă© uma arma para mudar o mundo, mas o filme Ă© uma maneira de vocĂŞ pensar o mundo de outro modo”.
A atriz ZezĂ© Motta, que estrelou Xica da Silva, filme dirigido por Cacá, deixou sua homenagem nas redes sociais: “minha eterna gratidĂŁo sempre ao gĂŞnio Cacá Diegues por me presentear com essa protagonista.”Â
O Presidente LuĂs Inácio Lula da Silva tambĂ©m se manifestou pelas redes, e disse que os filmes do cineasta “mostram muito bem nossa histĂłria, nosso jeito de ser, nossa criatividade. E representam a luta de nosso cinema, que sempre se reergueu quando tentaram derrubá-lo.”
O velório de Cacá Diegues está previsto para a manhã deste sábado (15), na sede da Academia Brasileira de Letras, no centro do Rio de Janeiro.
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* Com produção de Dayana Vitor.