Olá, sou Walter Salles, e sou o diretor de “Eu ainda estou aqui”. Estamos 30 minutos depois do filme, na casa da família no coração da história. Eunice Paiva é retratada por Fernanda Torres e Rubens Paiva por Selton Mello. Tudo aqui transmite uma sensação de normalidade: a luz, os sons da praia, a intimidade do diálogo. Mas então essa harmonia é quebrada pela invasão da casa, pela polícia militar. Agora portátil, a câmera transmite a instabilidade da situação, pulsando com os personagens. Rubens é informado de que ele será levado para um interrogatório. Ele tenta fingir que a situação está sob controle, mas sentimos que não é. Pela primeira vez no filme, as superfícies de vulnerabilidade de Eunice. É daqui que o arco de Eunice começa a tomar forma. A partir deste ponto, toda a cena gira em torno da subtração. Subtração da luz como as cortinas são fechadas, subtração de sons de fora. Subtração da música. Quando um dos cinco filhos do casal, Nalu, entra na casa com um amigo, eunice e os oficiais militares tentam fingir que ainda existe normalidade, mas não existe mais. Nalu, interpretado por Barbara Luz, nos leva ao quarto do pai. É uma cena vital, a última conversa entre um pai e sua filha, encenada como o verdadeiro Nalu me disse que isso aconteceu. Há uma estranha intimidade nessa troca, sublinhada pelo carinho da filha e pelo desejo do pai de prolongar esse momento. E então entendemos por que a intimidade era ilusória. Esta é uma improvisação criada no local com o ator Luiz Bertazzo que ele começa a espiar a intimidade da família. Momentos como esse respiram a vida na sequência. Rubens reaparece, preparando -se para ser levado para interrogatório. Ele tenta mais uma vez para criar um senso de ordinária. Aqui, o último abraço entre Rubens e Eunice é enquadrado pelos oficiais militares, enfatizando uma sensação de asfixia no que antes era um lugar seguro, a casa da família. Este é o primeiro dos únicos dois close-ups em todo o filme. Nós o salvamos para o último olhar entre Rubens e Eunice. A partir daqui, estamos com ela. “Eu ainda estou aqui” se torna o filme dela.